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Em uma madrugada de 1993, Ciro Sanches Zibordi perde o sono e resolve escrever um texto sobre evangelismo. Nessa época, ele já lecionava em um Seminário Teológico, em São Paulo. No dia seguinte, em uma reunião de líderes, recebeu a revelação: “Você, irmão, que ganhou de Deus esse talento para escrever, mande o artigo para o jornal Mensageiro da Paz”. E foi isso mesmo que ele fez! Mal sabia que o futuro lhe reservava grandes surpresas.
Depois disso, tornou-se escritor, conferencista e pastor na Assembléia de Deus de Cordovil, na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente é articulista dos periódicos da Editora CPAD e da Revista Eclésia. Em um dos seus feitos mais marcantes, escreveu Erros que os Pregadores Devem Evitar. A obra faz uma análise dos chavões, “versículos novos” e outros trejeitos presentes em diversas pregações, e é complementada por Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar e Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria, que formam uma trilogia de sucesso. Em um bate-papo franco, aberto e contestador, Zibordi fala sobre a repercussão de sua obra e comenta algumas questões polêmicas da atualidade no meio cristão.

Como se deu o início do seu ministério? Comecei a pregar o evangelho aos 18 anos. E escrevo desde os 23. Nasci em um lar evangélico, em 1970, mas o evangelho só nasceu em mim quando eu tinha quase 17 anos. Mas quanto à minha trajetória como escritor, falarei mais adiante, pois estou ansioso para responder à próxima pergunta…

Por que razões o senhor afirma que é contra manifestações como cair no poder, unção do riso, unção dos quatro seres ou unção da lagartixa? Primeiramente, vamos às definições. O chamado cair no poder ocorre quando um pregador joga o paletó, sopra, empurra, berra ao microfone e as pessoas caem ao chão, pensando estar cheias do Espírito Santo. Na unção do riso, o pregador começa a rir. O povo, sugestionado, faz a mesma coisa e todos riem sem parar. Quanto à unção dos quatro seres, no momento da adoração, as pessoas caem ao chão, rugem e batem os braços. Defendem isso usando como referenciais os quatro seres viventes mencionados no último livro do Novo Testamento. A unção da lagartixa é uma manifestação similar às mencionadas, e faz com que o agraciado fique grudado, colado na parede, com braços e pernas abertos, com se fosse uma lagartixa. Sou contra essas manifestações porque elas são extrabíblicas e antibíblicas. Tenho constatado que há muitos cristãos envolvidos com esses moveres, que se chocam com os princípios contidos em 1 Coríntios 14. Porque não edificam (v.12), contrapõem-se ao uso da razão (vv.15,20,32), levam os incrédulos a pensar que os crentes estão loucos (v.23), bem como promovem desordem generalizada (vv.26-28,40). A pessoa mais ungida que o mundo já conheceu, Jesus Cristo (Atos 10.38; Lucas 4.18), não andava por aí dando gargalhadas e derrubando pessoas. Muitos pensam que ser espiritual é viver sem limites e, a cada dia, tornam-se mais e mais místicos.

Na sua opinião, o misticismo está invadindo as igrejas? Há uns quinze anos, as igrejas, de modo geral, eram mais voltadas para a Palavra de Deus. Hoje, o povo não se satisfaz mais com uma mensagem bíblica ungida. O pregador tem que fazer chover fogo líquido do céu. Veja como estão se proliferando os cultos de libertação, as noites da vitória e as campanhas disto e daquilo! O pior é que os místicos usam versículos bíblicos em abono às novas unções que não param de surgir. Quem abraça o misticismo, na verdade, afasta-se da Bíblia e demonstra ser interesseiro. Só vai ao templo para receber bênçãos, como se Deus fosse o Papai Noel. Mas eu não posso falar muito sobre isso. Os místicos costumam ser indóceis.

O senhor já foi chamado até de “canalha”. É possível encarar situações como essas sem perder a postura cristã? É possível. Quando ocorrem reações mais exaltadas, respondo com mansidão e temor (1 Pedro 3.15), mas com algumas pitadas de ironia, como fez Paulo diante dos falsos apóstolos de seu tempo, chamando-os de “excelentes apóstolos” (2 Coríntios 11.5). Quanto ao pastor que me xingou de canalha (por eu ter questionado alguns dos seus desvios da Palavra de Deus em meu livro Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria), de certa forma ele tem sido um grande propagador do ministério que Deus me outorgou. Ele já rasgou os meus livros diante de multidões em várias partes do Brasil, despertando a curiosidade das pessoas. Muitas delas passaram a me conhecer e adquiriram os meus livros depois de vê-los furiosamente dilacerados pelo tal “pastor”.

Erros que os Pregadores Devem Evitar aborda modismos do meio evangélico. Qual foi o motivo que o levou a escrevê-lo? Sou, por graça de Deus, pregador e fui professor de Hermenêutica e Exegese durante 10 anos. E sou também muito observador. Mas escrevi o livro por motivação divina. Em 2004, minha filhinha Júlia estava na UTI, e o Senhor me deu paz e inspiração em meio às lutas. Em uma semana escrevi esse livro, que em 2005 foi a obra mais vendida da CPAD, mesmo tendo sido lançada em abril daquele ano. Graças a Deus, Erros que os Pregadores Devem Evitar, Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar (uma continuação) e Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria formam uma trilogia que sempre figura entre os best-sellers da editora.

Qual é a sua opinião com relação às hierarquias e estruturas de poder nas igrejas evangélicas dos dias atuais? Pergunta difícil. Uma coisa que precisa ser erradicada é o nepotismo ministerial, pois a chamada é um ato soberano do Senhor (Marcos 3.13,14). Parente de pastor só deve ser um ministro se verdadeiramente for chamado por Deus (Hebreus 5.4). É o Senhor Jesus quem escolhe. A igreja apenas reconhece a escolha divina e invoca as bênçãos de Deus sobre o ministro consagrado (Atos 13.1-4). Os pastores de hoje deveriam se espelhar nos líderes das igrejas de Atos dos Apóstolos, e não nos atos de líderes de igrejas de apóstolos, os quais legislam em causa própria, legitimando práticas não avalizadas pela Bíblia.

Em seus livros e palestras, nota-se o bom humor. Esse é o meio de encarar questões polêmicas de forma mais descontraída? Nas pregações sou mais sisudo. Quase não descontraio, a menos que flua naturalmente. Nas palestras, é mais fácil usar esse recurso. Mas não gosto de contar piadas. Prefiro os fatos anedóticos que resultem em aplicações para a vida cristã. Nos textos, eu me valho mais do bom humor. Costumo começar os meus livros com uma narrativa fictícia, mediante a qual ponho o leitor em contato com o conteúdo a ser abordado e procuro desarmar os seus ânimos. Mas nem todos têm senso de humor, infelizmente.