quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Hinos inspirativos ou canções de autoajuda


Assim começa o Salmo 20: “O SENHOR te ouça no dia da angústia; o nome do Deus de Jacó te proteja” (v.1). Não vemos aqui propriamente um hino de louvor a Deus, mas uma mensagem para o rei. Mesmo assim, a grandeza do Senhor é o que mais se destaca nesse salmo.

No Salmo 37, a letra da composição também é um estímulo para o justo: “Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. Porque cedo serão ceifados como a erva e murcharão como a verdura” (vv.1,2). No entanto, nota-se, nos quarenta versículos desse salmo, que a ênfase recai na Ajuda do Alto para os servos do Senhor.

A Harpa Cristã — hinário oficial das Assembleias de Deus, editado pela CPAD —, a despeito de não ser perfeita, segue o estilo contido nos Salmos. A maioria das suas composições é de louvor a Deus, mas também possui hinos com mensagens inspirativas para os servos de Deus. Assim começa, por exemplo, o hino 4: “Não desanimes, Deus proverá; Deus velará por ti; sob suas asas te acolherá; Deus velará por ti”.

Não é de hoje que existem hinos cuja letra é uma mensagem animadora, confortante para o crente, em vez de conterem palavras de louvor dirigidas diretamente a Deus. A despeito disso, boa parte dos Salmos bíblicos começam com ordens expressas, como “Louvai” e “Cantai”. Se tomarmos como base esse livro veterotestamentário, a maioria dos nossos hinos deveria ser de enaltecimento ao nome do Senhor, posto que apenas uma pequena parte dos Salmos é de composições com mensagens de exortação, de estímulo para o justo.

Bem, como vimos, não há problema algum em uma parte dos hinos evangélicos conterem mensagens inspirativas, em que se menciona o cuidado de Deus para com os seus servos fiéis. Mas o que é preocupante é o fato de, hoje, a maioria (quase todas) das composições evangélicas não pertencer à modalidade louvor e adoração.

Além disso, é preciso fazer uma distinção entre os hinos inspirativos e as canções de autoajuda ou que contêm sentimento de vingança. Estas, aliás, apesar de serem as que fazem mais sucesso no meio evangélico, não podem sequer ser consideradas hinos cristocêntricos, e sim canções antropocêntricas, posto que a sua ênfase recai nas necessidades e na vitória do ser humano, em detrimento da grandeza de Deus e da obra redentora.

Já citei aqui o caso do hit Faz um milagre em mim — que enfatiza mais as supostas virtudes de Zaqueu (como subir em um sicômoro para chamar a atenção de Jesus, intenção esta que não consta da Bíblia) —, o qual é um sucesso no meio evangélico, mas não pode ser considerado um hino de louvor a Deus, tampouco uma mensagem que enfatiza a grandeza do Senhor, primacialmente.

O mesmo ocorre com a canção Sabor de Mel, cujos vídeos no YouTube já atingem a casa dos milhões. Ela até começa bem, mencionando o agir de Deus na vida do crente fiel. Entretanto, ao longo da composição, não se vê menção clara e prioritária aos atributos do Senhor. Pelo contrário, o que se sobressai são bordões de autoajuda e que contêm sentimento de vingança.

É claro que há também erros de construção frasal na aludida canção, mas não vou mencionar isso para que os leitores não se desviem do foco. Observe como o sentimento de vingança se evidencia neste trecho: “Quem te viu passar na prova e não te ajudou, quando ver você na benção vão se arrepender; vai estar entre a platéia, e você no palco...” Esse tipo de sentimento, que leva o cristão a querer mostrar aos outros que ele é vencedor, e os seus inimigos derrotados, não combina com a vida cristã. Seria bom que todos os compositores lessem as palavras de Jesus registradas em Mateus 5-7.

Ainda sobre o hit Sabor de Mel, o refrão, à luz do contexto da composição, dá a ideia de que o crente está, como um jogador de futebol que conquista um campeonato, comemorando de modo provocativo, como que alfinetando os derrotados: “Mas minha vitória hoje tem sabor de mel, tem sabor de mel, tem sabor de mel. A minha vitória hoje tem sabor de mel”. Ou seja, é como se o servo de Deus tivesse a necessidade de mostrar a todos que ele venceu, e os seus inimigos perderam. Isso, definitivamente, não combina com a vida cristã.

Que Deus cuida do justo não há dúvidas. Mas não cabe a nós a vingança nem o sentimento de vingança. Em Romanos 12.19,20 está escrito: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira [de Deus], porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o SENHOR. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça”.

Ciro Sanches Zibordi

terça-feira, 22 de setembro de 2009

É fácil ser crente...



Quando só precisamos imitar os mediocres e caminhar na mesma direção.

Quando não precisamos atender qualquer exigência de vida disciplinada, só precisamos estar atualizados com as últimas novidades do varejão gospel.

Quando vamos à igreja procurando entretenimento, e é isso mesmo que encontramos.

Quando o parâmetro de vida piedosa são as pessoas rasas da comunidade, ou pior ainda, o avivalista "itinerrante" metido a profundo e sua fabriquinha de ilusões. Gente que insiste em reduzir Deus a uma equação matemática e a "tão grande salvação" a um sistema de gratificação e castigo.

Quando o "fogo" do Espírito (será?!) é mais importante do que o fruto do Espírito (Gl.5.22)

Quando o culto serve para aliviar as tensões e justificar o "vale-tudo nosso de cada dia", ou seja, apenas um momento de catarse em que Deus não passa de um coadjuvante de luxo e nunca o centro da reunião.

Quando ser fiel, é mesquinhamente ser dizimista e ofertante. Esse tipo de dízimo, é apenas o "pedágio da alienação", uma espécie de indulgência, pois se sou fiel apenas dizimando não importa o resto.

Quando a Ceia não tem relevância, a não ser como climáx do fetiche hipocondriaco generalizado, porque hoje se você entrar em algumas igrejas com saúde, logo arrumarão uma doença pra você, pois o culto (será?!) tem que ter cura! É a ressurreição da velha máxima de repartição pública: "Criar dificuldade para vender facilidade"

Quando a ordem é cantar sem pensar no conteúdo do que se canta, e de preferencia os hits triunfalistas do momento. Isso inclui as músicas longas de uma frase só, os mantras evangélicos,música "pra sentir", As aberrações teológicas do tipo que convidam Jesus para entrar em casa depois de anos na igreja, ou as vitórias revanchistas com sabor mel, ou ainda as chuvas intermináveis que não causam inundações. Enfim, como diria Stanislaw Ponte Preta, todo o repertório do FEBEAPA (Festival de Besteira que Assola o País)

É fácil ser crente no evangelho da "graça barata", pois como disse Bonheffer:
"Graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina comunitária, é a Ceia do Senhor sem confissão de pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. a graça barata é a graça sem discipulado, sem cruz, graça sem Jesus vivo, encarnado. A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o ser humano sai e vende com alegria tudo quanto tem; a pérola preciosa, para cuja aquisição o comerciante se desfaz de todos os seus bens; o senhorio régio de Cristo, por amor do qual o ser humano arranca o olho que o faz tropeçar; o chamado de Jesus Cristo, pelo qual o díscipulo larga as redes e o segue." (Bonhoeffer. Discipulado, Ed Sinodal, 2004, p.10)

Que o Senhor nos livre desse evangelho de conveniências e facilidades, pois é "outro evangelho."

Franco Júnior

É fácil ser pastor


"A ordem de Jesus à Pedro foi 'apascenta as minhas ovelhas', não foi faça experiências com minhas cobaias, e nem ensine novos truques aos meus cães" - C.S.Lewis

É fácil ser pastor...

Quando a ignorância na Igreja não é vista como um inimigo a ser vencido, mas um importante aliado, copiando descaradamente o modelo governamental secular.

Quando se confunde a Igreja com propriedade particular, e aí cumpre-se o dito ambíguo que diz que o problema de alguns pastores é “que eles fazem na vida pública o que fariam na privada!”

Quando encher os bancos (da Igreja) a qualquer custo é a meta, e encher os outros bancos é o objetivo; Quando pregar é uma diversão e nunca uma responsabilidade, e aí se usa as oportunidades para entreter e divertir e nunca para ensinar e conscientizar.

Quando as agendas cheias transformam tarefas, como aconselhar, em uma "prática" (e terrível!) declamação da sabedoria duvidosa dos gurus da auto-ajuda.

Quando ouvir o aflito e angustiado está fora de cogitação. É mais fácil dizer: "reunam todos os quebrados aqui na frente que farei um clamor por atacado", e tudo resolvido...

Quando o referencial de gente bem sucedida é a classe política, os charlatões e os estelionatários da fé.

Quando estar acima da crítica é mais importante do que estar do lado da verdade.

Quando a relação com os demais obreiros é a de chefe e empregados, e nunca de companheiros na mesma luta.

Quando se busca a própria glória, o tapinha nas costas, a bajulação

Quando não existe o menor esforço para ver Cristo formado nos irmãos

Quando a única reforma que se conhece é de tijolo e cimento, e nunca do pensamento e da vida

Quando o púlpito é o lugar mais escancarado da Igreja, que precisa ser ocupado por quem tem habilidade com manipulação das massas; e os métodos e as técnicas são mais apreciados do que conteúdo bíblico e teológico.

Quando os interesses e prioridades não são os de Cristo e do Reino, mas da cúpula e do império.
Enfim, é fácil ser pastor, quando se atropela a orientação da Palavra de Deus. Sim, é tudo muito fácil, "extremamente fácil", mas exige uma coragem imensa porque um dia se prestará contas ao Sumo-Pastor!

Àquele que nos guia aos "pastos verdejantes e as águas tranquilas" seja a Glória, o Poder e o Domínio pelos séculos dos séculos!

Franco Júnior

domingo, 20 de setembro de 2009

É pecado julgar?

Existe um discurso politicamente correto que flui honrosamente da boca daqueles que geralmente odeiam a confrontação: "Vou à igreja, assisto o 'meu' culto, volto pra casa e não falo mal da vida de ninguém. Acho que se cada um cuidasse de sua própria vida e deixasse esse negócio de criticar o que é dito na igreja, nós teríamos uma igreja bem melhor."

Gente assim, dificilmente tem um senso crítico a respeito de sua fé. Não sabe porque crê. Não sabe no que crê. Contenta-se com uma fé cega, surda e muda. Afinal, dizem os tais, ai daquele que tocar nos ungidos do Senhor. Esquecem-se porém, que, diferente do Antigo Testamento, todos fomos ungidos na Nova Aliança: "Mas vocês têm uma unção que procede do Santo, e todos vocês têm conhecimento (...). Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês (...)" I Jo. 2.20,27

Estamos testemunhando um tempo histórico, onde os crentes seguem à risca tudo aquilo que lhes é dito a partir de um púlpito, sem titubear (claro, desde que isso não conflite com todas as bênçãos que Ele tem guardado em sua cartola mágica). Não sei o que é pior, vender aos crentes a bênção em forma de amuletos dos mais esdrúxulos, ou pior: comprá-la!

Será que ainda existem crentes que não entenderam que o que Jesus condenou foi o julgamento hipócrita, e não o julgar em si (Mt. 7.1-6)? Será que nunca estaremos prontos para tirar o cisco do olho de nosso irmão? Será que Jesus não foi o suficientemente claro ao dizer que depois de tirarmos a viga de nossos olhos estaríamos aptos para exercer o julgamento? Ouso propor uma resposta: o descaso do povo para com a Palavra continuará sustentando muitas mentiras, heresias e agressões à alma.

Ah... que falta fazem os bereanos! O livro de Atos não poupa elogios quando diz que eles "eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo." (At. 17.11)

Jesus disse: "Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamentos justos!" (Jo. 7.24). Disse também: "Por que vocês não julgam por si mesmos o que é justo?" (Lc. 12.57). O Apóstolo Paulo também não deixou margem para dúvidas quando disse: "Estou falando a pessoas sensatas; julguem vocês mesmos o que estou dizendo." (I Co. 10.15).

Há ainda aqueles mais pacificadores que, mansamente, nos lembram: "...ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom!" (I Te. 5.21). O problema nesse caso é, como diria meu professor Franco Júnior: "O que é bom?". Afinal, como já disse aqui, o ruim não é receber e-mails criticando meus posicionamentos, o ruim é receber respostas baseadas na achologia. E convenhamos: esse é o parâmetro utilizado pela maioria dos crentes hoje em dia. Não! Mil vezes não! A Bíblia é o nosso referencial.

E mais: não me importa quantos milhões de CDs vendeu o camarada que inventou a fábula de um Zaqueu que consegue chamar a atenção de Jesus - a Bíblia não diz isso. Não me importa o brilho reluzente do troféu da moça que quer te colocar no palco e humilhar os seus irmãos, a Bíblia não diz que será assim. Também pouco me importa se hoje é 9/9/2009 ou 10/10/2010, a sua bênção não custa R$ 900,00, nem custará R$ 10.000,00 no ano que vem, a Bíblia não respalda isso. Por fim, não me importa quem "profetizou", nenhuma arca vai proteger a minha casa, mesmo com anjinho e tudo. A Bíblia diz que "...se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda." (Sl. 127.1)

Que Deus levante mais bereanos. Gente que duvida, que critica, que denuncia. Gente que pinta a cara, mas não é palhaço! Homens e mulheres que não tenham medo da verdade, custe o que custar. Só assim a igreja evangélica brasileira voltará ao caminho da verdade, afinal, para esse, não há atalhos. Deus nos guarde dos lobos!

L. Rogério
Fonte: Dany e Roger

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O reino encantado da profetolândia


Um lugar onde os profetas levita(m)

Existe um lugar onde o surto profético é completamente liberado. Basta dois crentes se encontrarem e pronto: bate um arrepio, um clima de mistério e... lá vem profetada! A configuração é simples: uma lágrima ungida aqui, um lenço suado pela divindade manifesta. Tudo anda de acordo com a sensação do momento.

Na profetolândia tudo é profético. Até as roupas são escolhidas de acordo com a autoridade necessária na ocasião (principalmente quando são Daslu ou Armani). Chifres e óleos são abundantes. É tanto óleo que as pessoas parecem salgadinhos ungidos na feira da religiosidade tupiniquim.

A autoridade maior é o apóstolo (visto que toda a população é profeta). Só há um ministério: o da fazenda! Aqui renomeado: Ministério da Prosperidade. A bandeira tem um cifrão entrelaçado a um cajado, um shofar, a sombra de uma cruz e um balde de azeite de Israel. Na profetolândia não existe passado, pois os profetolandenses apenas determinam o futuro de conquistas!

Tudo é azul na profetolândia, visto que preto é suspeitíssimo. A televisão local chama-se "TV Sinal", porque nós acreditamos em milagres! A programação é bem simples: milagres de manhã, de tarde e de noite. De madrugada, milagres contra a insônia e o marido que ronca. Os intervalos comerciais vendem de tudo: Bíblias para todos os gostos, protetor solar "Debaixo do sol", arca da aliança em miniatura (com um shofarzinho dentro), candelabro comestível, e por aí vai...

Na profetolândia deu muito trabalho para nomear o local onde se jogaria o lixo. Alguns sugeriram "inferno", mas não deu certo, pois de vez em quando, alguns profetolandenses gostam de "saquear o inferno", aí já viu, não ia prestar. Então, depois de longas campanhas, nomearam o tal local (devidamente fora de seus limites sagrados) como "maldição". Daí em diante, toda maldição lançada pelos profetolandenses tem endereço certo: lixo!

Se você quiser conhecer essa terra que mana "leite e sabor de mel", consulte seu agente de viagem espiritual, numa neopentecostal mais próxima.

Ah, não posso entrar na profetolândia. Minha conta bancária (ops!, passaporte) não permite.

Até mais...
Alan Brizotti
Fonte: Blog do Prof. Alan Brizotti

sábado, 5 de setembro de 2009

Essa tal de unção apostólica...



Fico impressionado com alguns devaneios por parte do povo evangélico. Infelizmente, sou obrigado a confessar que alguns de nossos irmãos, no quesito criatividade, têm conseguido se superar. Se não bastasse os diversos tipos de unção espalhadados por toda esta terra varonil, nesses últimos anos de modo alarmante, tem-se multiplicado neste país tupiniquim essa tal de unção apostólica.

Inúmeras vezes fiquei a me perguntar o que seria isso, ou, o que representava possuir essa unção, ou até mesmo, o que ela tem de especial?

Após detalhada observância do discurso por parte dos profetas modernos, entendi que para estes, possuir a unção apostólica representa ter recebido da parte de Deus um poder especial o qual capacita o crente a viver a vida acima da média. Já ouvi o relato de pessoas afirmarem que o crente que não possui a tal unção pode ser considerado crente de “segunda categoria”. E para piorar as coisas, tais pessoas afirmam que nos dias atuais não basta ter o Espírito Santo somente, é necessário possuir a tal unção, até porque somente assim pode-se conquistar o melhor de Deus.

Ora, essa tal de unção apostólica não passa de mais uma mercadoria apresentada nos balcões da fé. Aliás, por acaso você já percebeu que a moda agora é ser apostólico? O culto é apostólico, o louvor é apostólico, as ofertas são apostólicas, tudo absolutamente tudo é apostólico.

Prezado leitor, com dor no coração sou obrigado a confessar essa gente não têm pregado o evangelho do reino. Antes pelo contrário, o evangelho o qual estes têm pregado é humanista, megalomaníaco e patológico.

Tenho a impressão de que o fato de enfatizar em suas mensagens um conteúdo “apostólico” é nada mais, nada menos do que uma sutil tentativa de diferenciar o produto deles daquilo que é oferecido por outras igrejas. Na verdade, é extremamente comum observar em tais movimentos, uma ênfase exagerada na tal unção.

Ah, meu amigo, como inúmeras vezes tenho falado não agüento mais a efervescência da graça barata, o mercantilismo gospel, a banalização da fé. Não agüento mais, as loucuras e os atos proféticos feitos em nome de Deus. Chega! Basta! Quero viver e pregar o evangelho, quero ver uma igreja, santa, ética, justa e profética. Quero ver uma igreja, que não se corrompe diante loucuras dessa era, quero ver uma igreja reformada e reformando, quero ver uma igreja PROTESTANTE!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

As profecias de Morris Cerullo

Por: Ciro Sanches Zibordi

Morris Cerullo teria se convertido aos 8 anos, quando — por incrível que pareça — estava pronto para se suicidar. Segundo ele, o próprio Deus, sem intermediários, entrou em ação, impedindo-o de pular da janela de seu quarto. A partir de então, milagres e mais milagres passaram a ocorrer através das suas mãos. Ele conta que, por causa de sua miraculosa chamada, mais tarde desistiria de se tornar o governador de seu Estado, New Jersey, nos Estados Unidos.

Depois de sua impressionante conversão, Cerullo também teria estudado com rabinos, numa cidade de New Jersey, até os 14 anos. Ele conta que foi tirado de um orfanato judeu por dois anjos, que o levaram para um refúgio secreto. Antes de completar 15 anos, relata que foi transportado ao Céu, onde se encontrou com Deus, face a face. Ali, o seu ministério lhe foi — conta ele — claramente detalhado pelo próprio Criador.

Ao voltar do Céu, ele descreveu Deus como um homem de 1,83m de altura e o dobro da largura normal de um corpo humano. Além disso, afirmou que o Senhor mostrou-lhe o Inferno e lhe disse palavras nunca ditas (supostamente) a alguém: “Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti... E as nações caminharão à tua luz”. Bem, para quem não sabe, essas palavras “exclusivas” estão registradas em Isaías 60.1-3.

Foi da maneira descrita acima que Morris Cerullo se tornou o porta-voz de Deus na Terra, um homem capaz de revelar as coisas que ainda não aconteceram. Mas, segundo ele, quando o Senhor Jesus desceu à Terra, não veio como Deus — esse pensamento é errôneo (cf. Jo 1.1,14; 1 Tm 3.16) e em nada difere da pregação de outros famosos expoentes da Confissão Positiva, como Kenneth Hagin, Benny Hinn (que aparece na foto acima, ao lado de Cerullo), Kenneth Copeland, Frederick Price, John Avanzini, Robert Tilton, Marilyn Hickey, Charles Capps, Jerry Savelle, Paul Crouch, etc.

Cerullo prega que, desde o início, Deus quis se reproduzir (isso também é propalado pelos triunfalistas citados). Em algumas pregações, ele instiga os ouvintes a repetirem que são deuses. E conclui: “Vocês não estão olhando para Morris Cerullo. Vocês estão olhando para Deus, estão olhando para Jesus” (HANEGRAAFF, Hank, Cristianismo em Crise, CPAD, p.390).

Ele se defende da acusação de que prega heresias dizendo: “O que um verdadeiro profeta diz acontecerá” (idem). Mas, além de boa parte de suas profecias não se cumprirem — em 1972, por exemplo, ele afirmou que os Estados Unidos experimentariam um grande avivamento, o que até hoje não aconteceu! —, em Deuteronômio 13.1-4 está escrito que apenas o cumprimento de uma profecia não é suficiente para provar que um profeta é verdadeiro.

Outra falsa profecia de Cerullo foi em setembro de 1991: disse que o mundo todo seria evangelizado até o ano 2000. E, de acordo com a passagem de Deuteronômio 13.1-4, citada acima, a principal característica do profeta de Deus é o compromisso com a verdade (cf. Jo 10.41; 14.23).

Uma estratégia usada por Morris Cerullo, e imitada por muitos telepregadores brasileiros, é usar de manipulação para arrecadar dinheiro. Mas ele faz isso em tom profético: “Assim diz o Senhor: Entregai a mim as vossas carteiras e deixai-me ser o Senhor do vosso dinheiro... Sede obedientes à minha voz” (idem).

Recentemente, Cerullo profetizou, em um programa de TV: “Nesses últimos dias, eu tenho uma unção especial que vou liberar sobre o meu povo, uma unção financeira, no meio desta crise. Deus está pronto para transferir a riqueza do ímpio para as suas mãos. Eu vou orar para Deus liberar a solução financeira sobre a sua vida. Existe um telefone aí na tela. Se você quer que Deus lhe dê a unção financeira dos últimos dias, semeie R$ 900,00. Por que 9? Porque este é o ano de 2009, e os números são importantes para Deus. O número 9 significa completo”.

Considerando que a Palavra de Deus nos manda julgar tudo (1 Ts 5.21, ARA), inclusive as profecias (1 Co 14.29), escrevi este artigo a fim de fornecer elementos pelos quais os crentes espirituais possam discernir bem tudo (1 Co 2.15), e segundo a reta justiça (Jo 7.24).

Em Cristo,

Ciro Sanches Zibordi

Sua bênção custa apenas R$ 900,00

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Adoração de Gérson

Era 1976 quando o jogador da Seleção Brasileira, Gérson, protagonizou o comercial dos cigarros Vila Rica e cravou uma das expressões mais conhecidas e, infelizmente, mais praticadas no Brasil: "Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também!". A frase deu origem à "Lei de Gérson" que se traduz em tudo aquilo que se faz na busca do benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais.

É triste se constatar que o evangelho no Brasil, mesmo importando tantos modismos e heresias gringas, também faça uso das mazelas nacionais. Percebo isso não apenas quando o assunto é ofertar, e a máxima, chavão tão consagrado em nosso meio, volta à tona: "Aquilo que você ofertar, Deus lhe restituirá em dobro", ao que se segue com o grupo de louvor entoando vorazmente: "Restitui! Eu quero de volta o que é meu..."

Não! Já não basta-nos o simples prazer e privilégio de ir à Casa do Senhor adorá-lO pela Sua misericórdia e bondade. É preciso algo mais... um motivo "maior". Na busca ou na invenção de tal motivo, ouve-se de tudo:
"Venha para a Casa do Senhor, pois Ele tem uma bênção para você!"
"Vamos trabalhar para Jesus, irmãos, pois nossa obra tem uma recompensa!"
"E para você que é parceiro fiel de nosso ministério, vamos fazer uma oração forte..."
Perceba que na maioria dos exemplos acima há certa verdade, mas que pode ser sutilmente adulterada sob a pretensão de fé. Como diria meu professor Franko Júnior: "Um capitalismo disfarçado de fé".

Porém, a sutileza vem à tona e se desfaz quando vemos uma igreja que precisa justificar toda a sua adoração. Espera-se ansiosamente até que o pregador fale algo "positivo" para que se dê um brado de vitória. Os testemunhos de prosperidade vêm para atestar o bom investimento no Reino. Há ainda a garantia do retorno de todo o seu empenho quando canta-se: "Eu não morrerei enquanto o Senhor não cumprir em mim todos os sonhos que Ele mesmo sonhou pra mim".

Fico imaginando o que seria de Nínive se Deus não se arrependesse da promessa que fez pela boca de Jonas depois de sentenciá-la... ou dos israelitas que morreram no deserto e não entraram na terra prometida... e de todos os heróis do capítulo 11 de Hebreus que "viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido" (v. 13). Bom, talvez o Rei Ezequias tenha cantado essa música depois que o Senhor mudou de ideia quanto à data da sua morte (II Re. 20).

Sim, eu creio que Deus é fiel, e sei que mesmo eu sendo infiel, Ele permanece assim. Porém, creio que Ele é Deus e se decidir não cumprir algo que tenha me prometido, quem exigirá dEle alguma explicação? Philip Yancey diz que explicações de Deus para nós é como tentar explicar a teoria da relatividade a alguém que não sabe o que é um átomo.

Não, Deus não é mentiroso. O que promete, cumpre. Mas preciso entender que Ele cumpre por amor à Sua palavra, e que não há qualquer garantia de vida enquanto Deus não cumprir, fosse assim, daria pra saber mais ou menos a data de nosso próprio velório, não é!? (rs).

O verdadeiro adorador não precisa de "incentivos" para adorar. Não me importa se o dia da minha vitória é hoje, pois "Deus marcou na agenda e não passa de hoje, não!" - minha adoração independe disso. Eu não preciso de mais uma pílula de ânimo de "eu sei que chegará minha vez". Também não quero fechar os olhos para os perdidos cantando: "Ainda bem que eu vou morar no céu" enquanto eles caminham a passos largos pro inferno.

Enfim, cansei de ser o queridinho de Jesus! Basta-me ser reconhecido como filho, mesmo tendo sido adotado. Que alegria ser co-herdeiro das bênçãos de Deus por Seu filho Jesus. Que privilégio poder chamá-lo de Abba! Toda glória seja Àquele que está guardando meu galardão. Pra mim, bastaria abraçá-lo.

No amor do Abba,

L. Rogério

Teologia da indecência


É indecente quando pastores aumentam gritantemente seu patrimônio enquanto a maioria dos membros da igreja faz verdadeiros malabarismos financeiros para conseguir pagar o dízimo e o aluguel. Ainda mais indecente é saber que esses membros recebem doses monstruosas de ilusão, via teologia da prosperidade, para que se acostumem nessa perversa seletividade arbitrária nojenta. Afinal, se não existir o miserável, quem vai alimentar a indústria da prosperidade? E, se não existir o pastor magnata, quem vai "garantir" os resultados? Lógicas indecentes.

É indecente quando a membresia honesta das igrejas fecha os olhos e tenta se iludir chamando tudo isso de "fim dos tempos". Tudo o que os indecentes mais querem é uma escatologia do desespero, da fuga. Enquanto isso, paraísos fiscais substituem o céu por aqui. É indecente saber que não existe pecado para os que têm credencial.

É indecente cantar tanta coisa ridícula e ainda culpar o Espírito Santo pela tal inspiração (ou seria alucinação?). É indecente pagar somas astronômicas a cantores e pregadores que fazem da fé a senha de sua conta bancária obesa. A bandidagem eclesiástica é mesmo milagrosa: faz sumir seu suado dinheirinho e ainda deixa você sonhando... Não me lembro onde li essa frase, mas serve: "não desista do seu sonho, apenas vá a outra padaria". O pão que a igreja vende envelheceu...

É indecente a passividade silenciosa do povo. Por mais antigo que seja o que vou dizer, ainda precisa ser dito: o povo tem o poder! Só esquece disso. Diga não aos indecentes! Diga não a essa pulpitocracia canalha, a essa sacanagem divina, a essa pilantragem sagrada, a essa malandragem eclesiástica. Envie esse post pra todo mundo. A net é uma arma poderosa!

Não compre CD'S e DVD'S de cantores e pregadores mercenários. Não os convide para seus congressos. Há tantos cantores e pregadores honestos e abençoados "guardados" no anonimato. Não aceite tudo que os pastores dizem. Questione. Duvide. Exija explicações bíblicas genuínas. Cuidado: ano que vem é ano de eleição. Não venda seu voto! Ao invés de gastar seu dinheiro para ir aos carnavais evangélicos bizarros, contribua com orfanatos, creches, asilos, ong's, casas de recuperação, hospitais.

A teologia da indecência adora bodes expiatórios, portanto, se você quiser descarregar sua raiva em mim, vá em frente! Pode me chamar de herege (é uma honra, pois é maravilhoso ser contra essa indecência toda). Pode me chamar de rebelde (inclusive, tenho um pôster do Che bem à minha frente). Ah, se quiser pode até me mandar pro inferno, pois nesses casos, o inferno é o lugar para onde os covardes mandam os lúcidos.

Até mais...

Alan Brizotti
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